“Nenhum homem é uma ilha”, escreveu John Donne, poeta inglês do século XVI. Adaptando para nossos dias, dizemos que nenhum ser humano é uma ilha, ou seja, fechado em si mesmo, um casmurro, como no célebre livro de Machado de Assis. Nem mesmo um misantropo, como o Dr. Gregory House, da série intitulada com seu sobrenome é uma ilha. Uma a uma, as pessoas compõem partes que formam um todo, edificando-o. Com suas singularidades, cada ser é uma fração de um continente e do mundo; é peça fundamental num tabuleiro com bilhões delas. Se um fragmento é levado ou, mais precisamente, se algum ser humano se vai, isto diminui os demais.
A morte de uma pessoa reverbera no todo, pois aqueles que vivem estão envolvidos no grande empreendimento chamado humanidade. Por isso, nunca se questione por quem os sinos dobram: eles dobram por mim, por você e por todos nós.
Aplicada à educação, a ideia gana ainda mais força: ninguém está isolado. Como é notório, o processo educacional é complexo e a educadores cabe o papel de guia, de catalizar a esperança. Cada educador é um referencial e um ponto de apoio, a pessoa que acolhe, que interpreta os sinais, que conjuga o processo de aprendizagem, considerando as experiências acumuladas. É também o educador quem estimula a solidariedade, a união e o respeito. As diferenças devem ser encaradas como riqueza, como diversidade. Juntos, é possível aprender mais e com mais qualidade. A percepção dos alunos pode ser mudada.
Simone Mainieri Paulon (com a colaboração de Lia Beatriz de Lucca Freitas e Gerson Smiech Pinho), em seu “Documento subsidiário à política de inclusão”, de 2005, publicado pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, diz que a formação do professor deve ser um processo contínuo, que perpassa sua prática com os alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. É fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de educação é praticado e desejado. Trata-se de desencadear um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais muitas crianças e adolescentes também não conseguem encontrar um “lugar” na escola.
Prof. João Artur Izzo